Geografia

     A geografia da América do Sul é resultado da estrutura geológica de sua crosta, que foi sendo moldada e alterada ao longo de milhões de anos, especialmente com a movimentação dos blocos que compõem as placas tectônicas. Para entender um pouco da geografia atual deste subcontinente, faz-se necessário entender como ele foi formado.

     Há muitos milhões de anos atrás, os continentes se encontravam reunidos em um supercontinente, chamado Pangéia. Por volta de 600 milhões de anos atrás, esse supercontinente começou a se dividir em duas grandes partes. A porção encontrada no hemisfério norte, chamada de Laurásia, era formada, grosso modo, pela América do Norte, Europa e Ásia. A porção encontrada no hemisfério sul, chamada de Gondwana, era formada pela América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártida. Por volta de 127 milhões de anos atrás, iniciou-se a ruptura da Gondwana, havendo a separação do que é conhecido hoje como América do Sul e África. Esse processo de separação foi lento e só se completou há 53 milhões de anos atrás, dando início à formação do oceano Atlântico Sul. Inicialmente a Antártida acompanhou a América do Sul em sua caminhada, ao afastar-se da África. Mas, há 49 milhões de anos, ambos, América do Sul e Antártida, também se separaram.

     O movimento dos continentes se explica pelo fato de estes se encontrarem sobre um manto sólido não contínuo, chamado de placas tectônicas, que flutua na superfície do globo terrestre. A ruptura da Gondwana se deu em função da formação de uma fenda na crosta terrestre, permitindo que o manto líquido e aquecido das camadas inferiores subisse por essa fenda e se condensasse, promovendo a expansão do assoalho oceânico. Esta expansão, que ocorre por acresção do material do manto às bordas das placas, resultou e tem resultado no afastamento destas, que, no caso da América do Sul e África, tem ocorrido a uma velocidade de 1,2 a 2,0 cm por ano, o que corresponde a 40 km para cada um milhão de anos. Obviamente que, como o planeta é redondo e não se encontra em expansão de tamanho, a existência de afastamento entre placas de um lado, resulta, obrigatoriamente, em choque entre placas de outro. Nesse choque, a placa subjacente é destruída e se incorpora novamente ao manto. Esse processo de choque resulta, nesta área, em extenso vulcanismo, alta freqüência de terremotos e elevação de cordilheiras. Foi exatamente esse choque entre a placa continental Sul-americana com a placa oceânica de Nazca que resultou na elevação da Cordilheira dos Andes, localizada no extremo oeste da América do Sul. Esta cordilheira se formou há 16-10 milhões de anos. É a mais extensa cordilheira do mundo, com 7.000 km de comprimento e largura variando entre ??? e ??? km. É a segunda cadeia de montanha mais alta do mundo, cujo pico mais alto é o Aconcágua, localizado na fronteira entre Chile e Argentina, com 6.962 metros. As cordilheiras ainda hoje continuam se elevando à velocidade de ??? cm por ano. Ela só perde em altura para a cordilheira do Himalaia, resultado do choque de duas placas continentais, a Indiana e a Asiática.

     Também é curioso notar que as Américas do Norte e Sul, embora estivessem unidas na Pangéia, se mantiveram separadas durante milhões de anos subseqüentes, quando da divisão deste supercontinente. Elas voltaram a unir-se novamente há somente (“somente” em termos geológicos) 4 milhões de anos atrás. Esta união se deu quando o Istmo do Panamá, que era uma ilha, se moveu para leste, permitindo a ligação terrestre das Américas do Norte e Central com a América do Sul. Esta ligação teve impacto substancial sobre a fauna e a flora destes dois blocos, uma vez que permitiu a migração de várias espécies, notadamente de animais mamíferos.

     A grande extensão do eixo norte-sul da América do Sul resulta em grande variação de latitude. Esta varia desde 0o, referente à linha do equador, até a latitude de 55o Sul, tomando como referência a cidade de Ushuaia, cidade mais austral do continente, localizada na Província da Terra do Fogo, extremo sul da Argentina. Esta grande diversidade de latitude, associada às diferenças de altitude, que podem chegar a mais de 6.000 metros, somadas ainda a condições locais, resulta na grande variação de climas do subcontinente sul-americano. Também o índice de precipitação de chuvas é extremamente variável entre regiões. Existem regiões com índices pluviométricos altíssimos, por volta de 8.000 mm por ano, com chuvas quase todos os dias, como é o caso de algumas regiões localizadas nos contrafortes dos Andes, no Peru e Equador. Também existem regiões onde nunca se registrou chuva, como é o caso do deserto do Atacama, o deserto mais seco do planeta, localizado no norte do Chile.

     Também a América do Sul é berço da maior bacia hidrográfica do planeta, a bacia amazônica. Embora ainda em discussão, se aceita que o rio Amazonas apresenta 6.992 km de extensão, sendo que sua bacia drena seis países, formados pelo Brasil, Bolívia, Equador, Peru, Colômbia e Venezuela. O rio é tão extenso que não se sabe ao certo onde nasce. Também é tão caudaloso, que é difícil definir o ponto exato de sua foz, ou seja, o limite entre onde termina o rio e começa o oceano Atlântico. Isto explica o fato de sua disputa com o Nilo, pelo título de rio mais extenso do mundo, ainda não ter chegado ao fim. Outras importantes bacias hidrográficas são a bacia do Rio Prata, que drena a Bolívia, Paraguai, Brasil, Uruguai e Argentina, e a Bacia do Rio Orinoco, na Venezuela.


El Chatén, Patagônia Argentina (2008).

Os rios, formados pelo degelo dos Andes, avançam por um leito raso e mal delimitado. A presença de partículas minerais suspensas e a incidência da luz produzem a coloração especial de suas águas.







Capillas de Mármol, Puerto Tranquilo, Lago General Carreras, Patagônia Chilena (2008).

Ao refletir a cor das águas do lago sobre as paredes branco-acizentadas do mármore, esculpido pelas frias águas do lago General Carreras, a luz produz a coloração impressionante dessas cavernas. O mármore foi tão esculpido na altura da superfície da água que alguns dos imensos blocos, semelhantes a pequenos montes, encontram-se suspensos por algumas finas pilastras.  




Monumento Nacional Bosque Petrificado, Sarmiento, Província de Chubut, Patagônia Argentina (2008).

Tronco petrificado. O que parecem simples troncos caídos são, na verdade, fósseis vegetais de árvores que viveram há 65 milhões de anos atrás. Naquela era, as atividades vulcânicas, resultado do movimento das placas tectônicas, produziram grande quantidade de cinzas que cobriram grandes extensões de terra. Essas cinzas enterraram esses troncos já caídos, que não apodreceram imediatamente, devido à ausência de oxigênio. A água da chuva permitiu a infiltração e, conseqüente, deposição da sílica dentro dos vasos da madeira, petrificando-a. A subseqüente erosão do solo expôs os troncos petrificados. Somente ao tocá-los, é possível perceber que possuem consistência de pedra, apesar da nítida aparência de madeira. As intempéries (chuva, frio e calor) fazem com que os troncos petrificados se quebrem em pequenos pedaços, semelhantes a cavacos, que se encontram espalhados pelo chão, nos dando a sensação de estar andando em uma marcenaria.



Parque Nacional Los Glaciares, El Calafate, Patagônia Argentina (2008).

“Iceberg” flutuando no lago. O Glaciar Perito Moreno, que é uma das geleiras mais impressionantes da Argentina, caminha por volta de 2,0 metros por dia. Quando chega ao fim, essa caminhada resulta no desprendimento de grandes blocos de gelo, chamados icebergs ou têmpanos, que flutuam nos lagos. A intensa coloração azul das geleiras ou dos “icebergs” é produzida pela incidência da luz no gelo, que apresenta grande escassez de gases aprisionados, devido à forte compactação do mesmo.



Porto Velho, Estado de Rondônia, Região Amazônica, Brasil (2006).

Por do sol no Rio Madeira. Um rio carrega, submerso em suas águas, um retrato histórico da geologia das terras por onde passa. Nesse sentido, o Rio Madeira, um importante tributário do Rio Amazonas, não é diferente. Ele drena extensas do Peru e principalmente da Bolívia. Essas áreas, que sofreram “recentes” (recentes em termos geológicos) movimentos em função do soerguimento dos Andes, são sujeitas ao processo de erosão, tornando barrentas as águas do Rio Madeira. 


Tres Cruces, Região de Puna, Província de Jujuy, norte da Argentina (2009).

Relieves de la Puna (Relevos da Puna). A 3.693 metros de altitude, a rígida crosta terrestre aparenta ser tão fluida como o vai e vem das ondas de um dia de mar agitado. Os relevos são escritura registrada em cartório da veracidade da teoria de tectônica de placas.  





Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, Deserto do Siloli, Sudoeste da Bolívia (2009).

Laguna Verde. Embora de coloração verde exuberante, a Laguna Verde é desprovida de vida, dada à grande quantidade de minerais dissolvidos em suas águas, como o cobre e o arsênio. Ao fundo, o vulcão Licancabur.






Valle de La Luna, Reserva Los Flamencos, Deserto do Atacama, Chile (2009).

Cordillera da La Sal (Cordilheira de Sal). Os movimentos da crosta terrestre deformaram a superfície, antes horizontal, de um platô formado por finas partículas de areia, argila e sal.  







Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, Deserto do Siloli, Sudoeste da Bolívia (2009).

Laguna Colorada. Tingida de um vermelho vivo, essas lagoas permitem a multiplicação intensa de micro-organismos, que servem como uma sopa da qual se nutrem os flamingos.






Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, Deserto do Siloli, Sudoeste da Bolívia (2009).

Arbol de Piedra (Árvore de Pedra). No meio de uma região inóspita e inabitada, um monumento natural, esculpido pelas mãos do vento, permanece em pé.






Complexo Turístico Tatio Mallku, Deserto do Atacama, Chile (2009).

Gêiser em atividade. Com hora marcada para esguichar suas águas ferventes, os gêiseres são maravilhas da natureza. Estão localizados sobre regiões vulcânicas, onde a crosta terrestre solidificada apresenta uma espessura delgada, com o magma quente logo abaixo desta camada. O solo rochoso acumula grande quantidade de água, a qual está conectada à superfície terrestre por poucos e estreitos canais. A água mais profunda se encontra mais quente, enquanto que a superficial está mais fria. Quanto mais fria é a água superficial, mais ela aprisiona a água quente inferior. Isto ocorre até que o aumento da pressão gerada pelo calor do magma consiga romper a camada de água fria, produzindo os esguichos. Esta diferença de temperatura entre a água inferior e a superior é maior justamente próximo ao amanhecer (entre 6:00 e 9:00 horas), quando a água superficial atinge sua temperatura mais baixa, próxima ao congelamento nas elevadas altitudes deste local. Isto explica porque o espetáculo se inicia ao raiar do dia.  



Salar de Uyuni, Uyuni, Departamento de Potosí, Bolívia (2009).

Hexágonos de sal. O Salar de Uyuni é tão grande que chega a ter a extensão de 100 km, quando medido de norte a sul, ou 195 km, quando medido de leste a oeste. A camada de sal chega a possuir 10 metros de espessura. As pessoas locais chegam a viajar através do salar, que pode ser arriscado, caso não se utilize rotas conhecidas.  











Carreteira Inter-Oceânica, Peru (2009).

Paisagem andina. Os Andes são a cordilheira mais extensa do globo, com milhares de quilômetros de extensão. Por estar disposta no sentido norte e sul, essa cordilheira influencia sobremaneira as correntes de ar pela região, o que resulta em grande impacto sobre o clima do continente.